22 de julho de 2020

nossa iminência

às vezes amanheço como se estivesse à beira de uma tragédia, na iminência de um desastre. nunca sei se minha particular ou coletiva. ou ambas. a cabeça pesa e o intervalo entre uma batida e outra do coração é maior, tudo é lento. me lembra um pouco uma ressaca. mas há tanto tempo nem bebo.

me dou conta que estamos há meses dentro do desastre. por que em alguns dias isso pesa no corpo e em outros respiro e ando e faço cada coisa como se a vida estivesse absolutamente normal e caminhássemos todos juntos para a plenitude do universo eu não sei.

talvez seja só o tempo seco.  este agosto universal que se aproxima.

dou água pras plantas.

varro o chão.

junto as cinzas da véspera.

temos sido isso, esse cuidado, a manutenção do que pensamos ser, esse juntar cinzas.

não me cubro com elas. um tanto se vai no vento, outro tanto lanço no composto que um dia alimentará as plantas.

preparo o fermento.

ontem me lembrei de comprar sal. sem sal, dizem, há briga na casa.

quero paz.

***

me encolho num canto e espero.

respiro. repito o poema que a fabi me mandou: “voragem mamífera da vida”.

sigo.

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