este ano faz quarenta anos que fui aprovada pro curso de jornalismo da usp. já me esqueci de muita coisa. outras, permanecem pra sempre. o jornalismo, em si, não durou muito. já a escrita nunca mais me deixou. vários tipos de escrita, várias formas de relatar o mundo que vejo e ouço. poesia em quase tudo.
mas no ano em que me formei, já me achava adulta e muito profissional. mas eu tinha 20 anos! e ninguém, absolutamente ninguém, levava a sério a informação de que eu era uma jornalista profissional, com carteirinha do sindicato e tudo. na época tinha me convencido que escrever não seria muito o meu caminho e tinha enveredado pela foto jornalística e formação em comunicação pros que viviam nas beiras, nas periferias, nos espaços distantes do poder.
uma das pessoas que me abriu espaço e me apoiou e me ajudou a olhar o mundo respeitando sempre a opção preferencial pelos pobres e o afeto que isso envolve foi o Douglas Mansur. douglas era da equipe do jornal o são paulo da arquidiocese. suas fotos sempre tiveram e ainda têm um olhar direto e amoroso, e nunca deixou de estar ao lado da luta por justiça e igualdade, abraçando especialmente a pauta da reforma agrária e o mst.
se já são quarenta anos que entrei em jornalismo, já faz quase quarenta anos que o conheço. e admiro. e respeito e serei sempre, sempre muito agradecida a ele, por me dar a mão, por me abrir espaço, por me fazer ver que o caminho que eu queria seguir era possível.
me desviei muitas vezes do jornalismo, já não vivo no brasil, faço fotos só de detalhes dos lugares por onde transito, mas sempre mantive o foco. e o douglas, o querido douglinhas, sempre ali, uma referencia pra mim.
quando entendi o quanto douglas está presente no que hoje sou, agradecer é o mínimo que posso fazer.
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