nem digo
plantar colher
digo
comprar comida crua e transformar em alimento, pão
nem digo
fiar e tecer ou cortar e costurar
digo
fazer barras, firmar botões, consertos pequenos. fechar vãos
não, nem
fazer filhos digo
cuidá-los
nem ser
o tempo que envelhece
mas
guardar estes últimos momentos
não digo
nunca remover pedras se é poeira que se deposita todo dia
se a
roupa suja se a louça se alguém tem que fazer as compras ver se as calças se os
cabelos as orelhas se os modos
todo
este trabalho digo invisível, e não digo mas lembro não pago, experimente
o mundo,
como é, depende dele
não
viver no abandono de serpentes
não ser
ninho de vespas
não ter
que comer insetos
e quanto
aos desertos não passar a vida atravessando areia quente e seca
digo:
experimente a água, está fresca
na
toalha xadrez ela deposita um copo vidro e transparente
a água
do copo lentamente distorce a visão que tenho de suas mãos – ásperas
depois
oferece um café
arruma
um vasinho de violetas africanas, a penugem das folhas. tira as flores murchas.
amassa entre os dedos
a tarde
no silêncio da tarde
já termina
o sol:
suspira:
...
Nenhum comentário:
Postar um comentário