escrever é
isto: me visto pra você me despir, construo passagens de pedras no rio. depois
me pergunto ansiosa quanto tempo levará para que minha língua envelheça e as
palavras carcomidas se cubram de poeira e rachaduras e os fungos e a ação do
tempo sobre elas torne cada palavra incompreensível. quanto tempo minha língua
morta e a saliva crosta seca no céu da boca? minha língua quando não puder mais
despertar sua pele e umedecer os vãos: minha língua a não me vestir mais e
ninguém saberá despir nem revelar e não se saberá quanto do que digo flor é flor
quando o que digo pétala nem se saberá quanto da terra era nome quanto era
ninguém: o rastro da língua na palavra estátua imóvel coberta de cascas e
musgos pulsará irreconhecível. para isto, veja, para isto é que se busca é que
se constrói é que se oculta toda esta palavra exílio.
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Um comentário:
Belíssimo texto!
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