25 de março de 2015

estátua



escrever é isto: me visto pra você me despir, construo passagens de pedras no rio. depois me pergunto ansiosa quanto tempo levará para que minha língua envelheça e as palavras carcomidas se cubram de poeira e rachaduras e os fungos e a ação do tempo sobre elas torne cada palavra incompreensível. quanto tempo minha língua morta e a saliva crosta seca no céu da boca? minha língua quando não puder mais despertar sua pele e umedecer os vãos: minha língua a não me vestir mais e ninguém saberá despir nem revelar e não se saberá quanto do que digo flor é flor quando o que digo pétala nem se saberá quanto da terra era nome quanto era ninguém: o rastro da língua na palavra estátua imóvel coberta de cascas e musgos pulsará irreconhecível. para isto, veja, para isto é que se busca é que se constrói é que se oculta toda esta palavra exílio.



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