O mar está cheio de corpos
escalados, depenados, flutuantes,
não são peixes, nem aves,
fauna com a qual partilham apenas
a necessidade de migração,
respiraram, aprenderam a falar,
provavelmente a escrever,
esforçaram-se para andar de pé,
verticalmente, num mundo que sempre
os quis horizontais, curvados, de joelhos,
penitentes, submissos, resignados,
corpos que flutuam sem alma,
libertos das dores do mundo
que agora os olha com desconforto
ou indiferença, porque são corpos
sem nome, eventuais génios
recicláveis nas paredes de um museu,
promessas falhadas, futuros perdidos,
apenas corpos entre corpos,
que já nem o sal dos oceanos
suporta, e por isso os rejeita no seu fundo,
cuspindo-os para fora do silêncio
onde a vida talvez seja mais suportável,
menos pesada, quem sabe,
porque andar lá no fundo do mar
é bem mais viver do que flutuar
nesta insuportável superfície das águas
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