11 de janeiro de 2019

pedras e gemas


Pedras
(Gemma Gorga)

Se a voz pudesse sair nas fotografias
como sai a sombra ou a ternura – apesar de serem
realidades mais vulneráveis –, ouviria
uma vez mais meu pai me explicando que, antes
de pegar uma pedra, é preciso fazê-la rolar
com o pé ou com um graveto para espantar
os escorpiões que nelas se escondem como espinhos secos.
Nunca me preocupei com isso. Porque ter seis
anos era simples, simples como morrer. Nos dois
casos, não havia mais segredo que o ar:
respirá-lo ou não respirá-lo, como se a alma
fosse cheia de diminutos alvéolos que se abrem
e se fecham. O primeiro escorpião que vi
foi no livro de ciências naturais,
preso para sempre entre as pinças severas
do tempo. Às vezes, no entanto, os livros não explicam
toda a verdade, como se não a soubessem
ou a tivessem esquecido a caminho da impressão.
Aracnídeo que tem o corpo dividido em abdômen
e cefalotórax. Não dizia nada do sol
ardente na língua, do medo, da espiga
atravessada na garganta. Eu não sabia então
que as palavras são imensos icebergues
que escondem sob as águas geladas muito
mais do que mostram. Como a palavra escorpião.
E agora, enquanto o telefone toca insistentemente
– um grito agudo na madrugada – enquanto me levanto,
acendo a luz, aproximo a mão ao seu corpo branco
de plástico que brilha como uma pedra ao sol,
enquanto o atendo, e digo alô!, e alguém me diz que estás morto,
eu só penso nos escorpiões, e naquilo
que querias me dizer quando repetias: role
as pedras, por favor, role as pedras.

 

 

Pedres

(Gemma Gorga)

Si la veu pogués sortir a les fotografies
com hi surt l’ombra o la tendresa –tot i ser
realitats més vulnerables–, sentiria
un cop més el meu pare explicant-me que, abans
de collir una pedra, cal fer-la rodolar
amb el peu o amb una branca per espantar
els escorpins que s’hi amaguen com punxes seques.
Mai no vaig preocupar-me’n. Perquè tenir sis
anys era senzill, senzill com morir-se. En tots
dos casos, no hi havia més secret que l’aire:
respirar-lo o no respirar-lo, com si l’ànima
fos plena de diminuts alvèols que s’obren
i es tanquen. El primer escorpí que vaig veure
va ser al llibre de ciències naturals,
atrapat per sempre entre les pinces severes
del temps. De vegades, però, els llibres no expliquen
tota la veritat, com si no la sabessin
o l’haguessin oblidat camí de la impremta.
Aràcnid que té el cos dividit en abdomen
i cefalotòrax
. Res no hi deia del sol
ardent a la llengua, de la por, de l’espiga
travessada al coll. Jo no sabia llavors
que les paraules són immensos icebergs
que oculten sota les aigües glaçades molt
més del que mostren. Com la paraula escorpí.
I ara, mentre el telèfon sona insistentment
–un crit agut de matinada–, mentre em llevo,
encenc el llum, acosto la mà al seu cos blanc
de plàstic que brilla com una pedra al sol,
mentre el despenjo, i dic ?, i algú em diu que ets mort,
jo només penso en els escorpins, en allò
que volies dir-me quan repeties fes
rodar les pedres, sisplau, fes rodar les pedres
.


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