17 de novembro de 2020

neide

hoje nasceu o primeiro neto de uma amiga muito querida. e por um momento foi como se o mundo parasse.

ela também foi minha vizinha de bairro por muitos anos. organizávamos um piquenique na praça uma vez por mês, era bom. era o piquenique perto de casa. foi ela também que insistiu muito com a ideia de um blogue: que eu escrevesse um. foi quando nasceu o ando a pé.

soube que ela era minha vizinha porque na época acompanhava o blogue dela e, ao falar dos arredores da casa dela, reconheci meu bairro. como ela tinha kefir, entrei em contato para pedir um pouco de kefir. quando fui buscar, reconheci  o olhar e me lembrei dela carregando um bebê num sling quando eu estava no primeiro ou segundo ano da faculdade. me lembrei dela atravessando os espaços entre os prédios da eca com o bebê. por que a gente lembra de algumas coisas assim, né? e quando eu disse que me lembrava dela com o bebê, ela disse: o bebê está quase formado em medicina!

com o tempo fomos nos conhecendo uma à outra, uma à família da outra, os amigos, misturando os dias, as mãos, os pensamentos. nunca falta tema pra uma conversa. não tem dia que eu não pense nela.

o tempo passou e a tal da bebê cresceu e se formou em medicina.

hoje, também ela  teve um bebê!

a vida flui.

um rio.

a gente dentro.

 ***

também as flores das ervilhas vão se transformando em vagens, a olhos vistos... 

***

um dia, quando éramos crianças pequenas, minha irmã e eu juntamos muitas borboletas numa caixa de sapatos, com umas folhas dentro, e pusemos no alto do armário. me lembro da minha irmã escalando as prateleiras para chegar lá no alto. era para minha mãe não ver. depois, me lembro da caixa com as borboletas mortas. perguntei para minha irmã se ela se lembrava e, na hora, ela se lembrou, e foi e fomos puxando vários outros fios de memória. nada de romantizar a infância ou a adolescência. crescer é tão duro. parece o livro do pinóquio que me dá vontade de chorar até hoje, quando lembro das ilustrações. me dava muito, muito medo.

 

2 comentários:

Maria Eu disse...

Uma delícia, este entrelaçar de textos!
A vida a fluir. A fugir?

Boa noite, V. :)

v. paulics disse...

a fulgir, talvez, juntando fuga e fluidez num mesmo movimento.
boa dia, maria