(desde que
ela morreu)
não esqueço
o cheiro daquele quarto de hospital
podíamos abrir a janela
podíamos
trazer flores
e o não
perfume amarelo
a se
depositar na pele - dela –
minha mão
uma carícia
meu corpo
um abraço e
a vida, ali,
estancada
não
podíamos saber que era aquilo a morte
(mas desde
que ela, sim, eu sei)
o olhar
vazio e o ar pesado em volta
tudo também
era espera
(desde que
ela)
o amassar
de um papel o inverno
a pá de
terra que não caiu
a cada mês
penso menos nisso
e mais em
outros dias seus suspiros e risos
cada vez
tenho mais pedras na vesícula
esta tensão
no ar própria da vida
helicópteros
carros de polícia
as acácias
em flor
por todos
os cantos a terra pulsa
pulsa
pulsa
em toda
terra o semear
em toda
terra o dia de um dia se deixar esquecer
(ainda que
ela)
2 comentários:
Fica entranhada nos sentidos, a lembrança última...
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