12 de fevereiro de 2021

cafezal em flor

desde que me entendo por gente tive boa memória para números. números de telefone quando ainda não havia estes telefones que tudo guardam. cálculos de noves fora. tabuada. progressão aritmética, progressão geométrica. depois, os números perfeitos, ah, os números perfeitos. os números de fibonacci. números. e aniversários. 

conhecer alguém e saber que dia tinha nascido e nunca mais esquecer: dia, mês, ano. e juntar num cantinho do cérebro a cara, o nome, o dia que nasceu. depois, com o tempo passando, incorporando também aniversários de morte, estas datas tristes por nos lembrar que a pessoa não está, data feliz por saber que a pessoa esteve. de alguma forma permanece em nós.

cada manhã, assim que me dou conta de que dia é, meu cérebro vai me lembrando os nomes dos conhecidos e amigos que fazem aniversário naquele dia. gente que não vejo há muito tempo ou que mal conheci entram aleatoriamente na lista de pessoas próximas. às vezes mando mensagem, às vezes não digo nada. no mais das vezes tenho deixado de dizer. mas não deixo de lembrar.

o problema é que com isso das redes sociais ficarem insistindo: hoje é aniversário de fulana, faça seu dia mais feliz, eu empaco. sou insubordinada por natureza, não gosto de obedecer. então vou deixando de me manifestar, é como se me roubassem a sinceridade da lembrança, como se o fato de uma máquina nos avisar tirasse a beleza de haver lembrado.

é uma bobagem, eu sei. ou são bobagens. que diferença faz que alguém com quem não convivemos  se lembre ou não do nosso aniversário? diferença nenhuma.

como dizia meu pai, melhor guardar a massa cinzenta para lembrar de coisas que de verdade importam. a casa onde moro, o nome das pessoas que amo, as ideias que tenho no meio da noite, as receitas de biscoitos. os cheiros que me levam de um mundo a outro e que não há como registrar.

 

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