2 de janeiro de 2023

quando eu ainda era surda



nas noites de ano novo me lembro sempre de uma vez em que os meninos eram pequenos e estávamos na casa dos meus pais,. da varanda da casa, olhando pra direção do mar, dava pra acompanhar a explosão dos fogos de artifício. os meninos não estavam acostumados a ficar acordados até bem tarde, tinham aflição com multidão e muito barulho. estar ali, sentados no aconchego da casa e poder ver no céu o espetáculo dos fogos, era uma boa solução. eu já sabia que os cães não suportam estes barulhos, mas andava ainda um pouco surda pra o que não fosse animal humano. e por estar um pouco surda, podia assistir a explosão de cores no céu.

meu pai tinha sido químico. e sempre gostou de explicar as coisas pra nós. também nessa noite, olhando as cores que explodiam, ele explicava pros meninos que elemento químico gerava cada uma daquelas cores. nunca entendi muito bem como se faz um fogo de artifício, como se organiza os intervalos entre as luzes, mas naquela noite eu sabia exatamente o nome de cada um dos elementos químicos que geravam explosões em cor.

com o tempo me esqueci disso também.

com o tempo permaneceu a sensação do aconchego daquele ano novo. estar entre as pessoas que eu amava e ver nos olhos o brilho de aprender a grandeza do mundo e de se alegrar com a explosão da luz.

agora, que já sou surda aos sons, me comove a memória.

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