11 de outubro de 2010

ajka

sob a lama vermelha um ponto obscuro do mapa do mundo cresce, cresce. ocupa páginas de jornais. aquele é o lugar onde meu pai nasceu e cresceu. ali viveram seus pais. ali vivem tios, primos, parentes meus. na paisagem daquele lugar há o contorno de uma fábrica e um cheiro metálico no ar.
a imagem difusa e noturna que permanece em mim é um trajeto de luz amarelada em ônibus, a parada em frente à igrejinha e a praça, um longo caminho no meio da neve. meu pai, minha mãe e seus quatro filhos. era madrugada. e então uma casa toda fechada. meu pai a lançar pequenas pedras na veneziana. uma, duas. antes da terceira, alguém pergunta quem é? meu pai: sou eu. sem nome, sem nada, e lá dentro o barulho ansioso de trincos. e lá dentro, dois homens e uma mulher. e lá dentro o mais velho dos homens permanece no incompreensível. aqui fora, o mais novo, no meio do abraço, pergunta ao meu pai: e os meus lápis de cor, você trouxe?

Um comentário:

noemi disse...

coisa mais linda do mundo, veronika!