às sextas, lê-se mais poesia que às segundas. deveria ser o
contrário porque a sexta já traz em seu bojo a alegria de pequenos fins e
recomeços, ou isso não seria alegria, porque a última caixa a última gaveta a última prateleira são
sempre as mais demoradas mas se é no último lugar onde se busca que a coisa é encontrada.
às sextas quase sempre o tempo é bom, e é no domingo que abrimos
os olhos à procura.
se penso: estou em pé, os antípodas se descabelam. poderia ser o contrário, embora nem isso seja: verme pegado na pele da terra. o universo que somos um dia, se recriará em outro. e esse dia será uma
sexta. e nesse dia a fratura interna se soldará, a pele se consertará cicatriz.
quando ligo, ela atende e quase não respira, quem perde
o fôlego sou eu. sua voz é desmedida e os nós dos meus dedos como os seus ficam cada vez
mais grossos, com o passar dos anos: nós.
um homem que mata outro homem nem sempre se recolhe em
silêncio. às vezes grita. às vezes sexta.
nunca nenhuma poesia.
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