21 de outubro de 2020

lili

Os Lírios
(Karenne Wood)

Quando descobri que talvez eu estivesse com câncer,
Comprei quinze lírios brancos. A Páscoa passou:
as trombetas murcharam, plantas tortas com raízes
emaranhadas em potes. Eu as enterrei no jardim,
sabendo que não floresceriam até o ano seguinte.
Durante todo o verão, os caules pareciam postes em ruínas
enquanto esperava pelos resultados. No outono, os caules
tinham caído. Mais biópsias, incisões a laser,
o câncer em minha língua uma massa esparramada. Lá fora,
a terra permanecia nua, rizomas encolhidos
sob a geada. Brotos de primavera apareceram
em peles verdes brilhantes, e lírios floresceram
em julho, suas trombetas enceradas de branco puro,
espalhando pólen dourado pelo chão.
Este ano,
há três vezes mais, estão surgindo novamente. Eu espero,
uma cerimônia, para a abertura dos lírios, para que a linha serpenteante
do jardim floresça na forma da cicatriz da minha língua,
um caminho branco com uma extremidade levando para o ar brilhante,
e outra descendo pelo cânion da garganta, negro
e implacável. Tento imaginar
o que poderia crescer em tal escuridão. À espera
dos lírios se abrirem.

 

 

***

“ad nauseam” era a expressão que fiquei procurando sem achar no dia que fui dormir depois de ver repetidas vezes o vídeo que eu mesma fiz da gaivota devorando o pombo. até a náusea.

 

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