19 de outubro de 2020

na pedra

na hungria há um museu de um antigo hospital que funcionava dentro de uma montanha. visitando o museu, a gente caminhava pelos tuneis, que eram os corredores antigos do hospital e via as pequenas grutas, nichos  que eram quartos, tudo muito aflitivo porque, além de estreito e labiríntico, havia objetos e figuras de cera imitando bem a situação de um hospital em tempos de guerra, os feridos, os mortos, os mutilados. aquilo só me deixava menos claustrofóbica quando pensava que a montanha a bem dizer era uma pedra. os túneis não desabariam sobre mim, fechando as possibilidades de saída, porque a montanha é uma pedra que se sustém há tempos e que me dava uma permissão de passar ali, pelos seus veios, esses espaços de respiração da própria pedra. pessoas são assim, também, grandes montanhas de pedra. se a estrutura não parecer firme, dá medo entrar e tudo desabar e nos matar. todos expostos a bombardeios, que nos atingem por fora, e a atos terroristas, que nos explodem por dentro.

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