7 de abril de 2020

gato escondido com rabo de fora




gosto de limpar a casa. quanto mais suja antes da faxina, melhor a sensação depois que tudo fica limpo. mas quanto menos tempo passa entre uma faxina e outra, mais fácil é a limpeza. e fica sempre uma tensão entre as duas possibilidades, cada uma oferecendo um tipo de satisfação. e assim vamos. temos uma semana de férias dentro do confinamento. vamos fazendo as coisas. faxina era uma delas. casa limpa. pensamento sem pensar por uma boa parte do dia.

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quando olhei pela janela, vi muitas pombas juntas na calçada, como se alguém tivesse dado comida pra elas. no meio do cinza das pombas, havia dois verdinhos se mexendo. duas maritacas. são tão diferentes das pombas e tão iguais. quando se aproximou uma pessoa com um cão, todas voaram: as maritacas e as pombas. às vezes, as gaivotas atacam as pombas. ultimamente as gaivotas estão mais ocupadas em fazer ninhos e fabricar gaivotinhas.

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um amigo me diz que neste confinamento a parte do dia que mais gosta é quando está tomando uma cervejinha, mas que a mulher dele reclama dizendo que ele está bebendo muito e fica controlando a quantidade.
então, ele inventou um jeito de escapar do controle.  como é ele que sai para fazer as compras, traz o dobro de cervejas do que estava na lista. mas, quando chega, não entra com todas. deixa a metade delas na escada, dentro de uma mochila. quando entra com as compras, deixa fora os sapatos. a mulher se põe a lavar tudo, desinfetar e guardar. enquanto ela está lá ocupada na cozinha, ele abre a porta como quem vai pegar os sapatos e aproveita para pegar a mochila, vai com as cervejas até o banheiro. pega um pano para desinfetar todas as cervejas enquanto a mulher dele continua ocupada desinfetando tudo na cozinha. ele limpa cada latinha e coloca embaixo do sofá da sala, onde ela não vê. bem antes que ela termine tudo na cozinha, ele já está tranquilo, de banho tomado, roupa trocada e cervejas escondidas.
daí, na medida em que vai pegando as cervejas da geladeira, repõe com as que ficaram embaixo do sofá. pra não dar bandeira, não repõe todas, obviamente. e para a mulher dele não desconfiar, amassa cuidadosamente as latinhas vazias e guarda dentro de uma mochila. também neste caso não esconde todas. as latas sobressalentes sairão de casa numa mochila pequena escondida embaixo do casaco na próxima ida ao supermercado. é quando ele aproveita para levar os resíduos recicláveis.
meu amigo se acha muito esperto.

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dia desses um amiga me escreveu dizendo que o mais divertido da quarentena tem sido ver o marido esconder cerveja embaixo do sofá, achando que ela não sabe. e pra conseguir fazer isso, ele sempre se prontifica a ir ao supermercado e a levar os recicláveis pra baixo. ela fica fumando na janela – aproveitando que ele não está, porque ele não gosta que ela fume - e se diverte vendo como ele volta pela rua, desajeitado carregando as cervejas embaixo do casaco. ela tem tempo de sobra pra apagar o cigarro e se livrar dos rastros.

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rimos.

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