gosto de limpar a casa. quanto mais suja antes da faxina, melhor a sensação depois que tudo fica limpo. mas quanto menos tempo passa entre uma faxina e outra, mais fácil é a limpeza. e fica sempre uma tensão entre as duas possibilidades, cada uma oferecendo um tipo de satisfação. e assim vamos. temos uma semana de férias dentro do confinamento. vamos fazendo as coisas. faxina era uma delas. casa limpa. pensamento sem pensar por uma boa parte do dia.
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quando
olhei pela janela, vi muitas pombas juntas na calçada, como se alguém tivesse
dado comida pra elas. no meio do cinza das pombas, havia dois verdinhos se
mexendo. duas maritacas. são tão diferentes das pombas e tão iguais. quando se
aproximou uma pessoa com um cão, todas voaram: as maritacas e as pombas. às
vezes, as gaivotas atacam as pombas. ultimamente as gaivotas estão mais
ocupadas em fazer ninhos e fabricar gaivotinhas.
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um amigo me
diz que neste confinamento a parte do dia que mais gosta é quando está tomando
uma cervejinha, mas que a mulher dele reclama dizendo que ele está bebendo
muito e fica controlando a quantidade.
então, ele
inventou um jeito de escapar do controle.
como é ele que sai para fazer as compras, traz o dobro de cervejas do
que estava na lista. mas, quando chega, não entra com todas. deixa a metade delas
na escada, dentro de uma mochila. quando entra com as compras, deixa fora os
sapatos. a mulher se põe a lavar tudo, desinfetar e guardar. enquanto ela está
lá ocupada na cozinha, ele abre a porta como quem vai pegar os sapatos e
aproveita para pegar a mochila, vai com as cervejas até o banheiro. pega um
pano para desinfetar todas as cervejas enquanto a mulher dele continua ocupada
desinfetando tudo na cozinha. ele limpa cada latinha e coloca embaixo do sofá
da sala, onde ela não vê. bem antes que ela termine tudo na cozinha, ele já
está tranquilo, de banho tomado, roupa trocada e cervejas escondidas.
daí, na
medida em que vai pegando as cervejas da geladeira, repõe com as que ficaram
embaixo do sofá. pra não dar bandeira, não repõe todas, obviamente. e para a
mulher dele não desconfiar, amassa cuidadosamente as latinhas vazias e guarda
dentro de uma mochila. também neste caso não esconde todas. as latas
sobressalentes sairão de casa numa mochila pequena escondida embaixo do casaco
na próxima ida ao supermercado. é quando ele aproveita para levar os resíduos
recicláveis.
meu amigo
se acha muito esperto.
***
dia desses
um amiga me escreveu dizendo que o mais divertido da quarentena tem sido ver o
marido esconder cerveja embaixo do sofá, achando que ela não sabe. e pra
conseguir fazer isso, ele sempre se prontifica a ir ao supermercado e a levar
os recicláveis pra baixo. ela fica fumando na janela – aproveitando que ele não
está, porque ele não gosta que ela fume - e se diverte vendo como ele volta
pela rua, desajeitado carregando as cervejas embaixo do casaco. ela tem tempo
de sobra pra apagar o cigarro e se livrar dos rastros.
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rimos.
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