16 de abril de 2020

todo dia ela faz tudo sempre igual?


uma reflexão pouco elaborada e sem qualquer poesia.

desde que não saímos de casa, seria possível dizer que todos os dias são iguais só porque o cotidiano se concentrou num espaço mais restrito?
tenho pensado nisso, sem conseguir concordar. a tal lista que comecei há alguns dias, das sete coisas vistas, ouvidas e feitas, deixa muito claro que nenhum dia é igual ao outro. por mais que eu busque uma rotina, ou, melhor dito, uma dinâmica para os dias, cada dia é diferente do outro. os horários se alteram um pouquinho, o que se come, o que se vê, o que se faz e, principalmente, o que se conversa presencial ou virtualmente.  o que se elabora é sempre outro. e sempre chegamos diferentes ao final do dia.
fiquei curiosa para saber como é o dia a dia dos outros. o que as outras pessoas fazem no isolamento social? o que você faz?
aqui acordamos por volta das oito, tomamos café da manhã e às nove já cada um engrenou nas atividades de estudo , trabalho ou atividade física. por volta da uma um de nós começa os preparativos do almoço, que cada dia é diferente e de tempos em tempos é um restê trasdontê. almoçamos por volta das duas. louça na máquina, cada um volta pras suas atividades. paramos às oito, todo dia, há mais de um mês, para bater palmas nas janelas e varandas, é o momento do dia e que nos sabemos claramente partícipes de um coletivo mais amplo. daí jantamos e assistimos algum filme ou série. antes de dormir, lemos ou conversamos, ou ficamos em silêncio. ao longo do dia, conversamos por escrito com amigos e família. às vezes conversamos por videochamada também, mas é menos. 
uma  ou duas vezes por semana pomos roupa pra lavar na máquina, e é preciso estendê-la e, depois de seca, dobrá-la.
a cada duas semanas fazemos faxina, concluímos que não é preciso mais do que isso. trocamos os lençóis, as toalhas.
de tempos em tempos regamos as plantas – cada planta tem seu tempo.
uma vez por semana, o melhor é quartas ou quintas, organizamos a lista de compras e um de nós sai, como se saísse pro front.
nos finais de semana alteramos deliberadamente a rotina. mudamos a hora de levantar, vemos filmes mais longos, algum jogo de mesa. mudamos o café da manhã pra lembrar que é domingo.  fazemos uma comida diferente.
não nos falta comida. não nos falta gás. não nos falta conexão à internet. não nos falta água nem luz.

***

reparo também que se consome muito menos coisas.
venho elaborando internamente uma resposta pra pergunta de como o mundo poderia se organizar sem ser em torno de uma lógica de desenvolvimento que signifique sempre aumentar o consumo para que se aumente a produção (os economistas sempre argumentam que só a produção, e o seu crescimento, permitem gerar empregos, como se os empregos fossem um fator de distribuição de renda).
meu pensamento simplista é: repare que ao comprar produtos em geral aumentamos a concentração de renda. se alguém tem uma máquina de produzir copos, contrata duas pessoas para controlar a máquina, produzirá milhares de copos por mês. quanto mais copos forem vendidos, mais ganha o dono da máquina, que continuará pagando miseravelmente os seus dois trabalhadores. por outro lado, ao comprar serviços, como o trabalho de alguém que faça uma faxina, sem a intermediação de uma empresa, reduz-se a concentração de renda. 

que produtos a gente precisa? que serviços? 

é uma lista difícil, mas não deve ser impossível.

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