com isso de me sentir um animal na jaula, fui parar numa
página que era triste e bonita ao mesmo tempo. são câmeras de um zoo que
transmitem ao vivo alguns dos animais que vivem presos lá. pode-se acompanhar
um elefante, um urso panda, um leão (que nem saiu do lugar), uns ratinhos e,
principalmente, um guepardo-fêmea que deu à luz quatro guepardinhos.
os filhotes nasceram no dia 08 de abril. são minúsculos. enquanto
trabalhava no computador, deixei aberta a janela da live e por muito tempo fiquei
olhando, acompanhando, como se eu
estivesse de um lado da janela e assim como eu os vejo, eles me vissem. e de
algum modo era emocionante ver como os filhotinhos se amontoam uns sobre os
outros num cantinho, como a mãe chega pra eles mamarem, como ela os lambe, como
ela os afasta, como ela se afasta, como ela volta e se aproxima e eles então
sobem sobre ela e ficam quietinhos, ela sempre atenta a qualquer ruído que
venha de fora.
a visão toda, gerou, por um lado, alegria por me relembrar
as vezes que convivemos com bichos parindo em casa, o morninho dos filhotes, o
carinho da mãe. por outro, um constrangimento desta invasão da qual o bicho não
sabe. ele acha que está ali numa espécie de toca, preso no escuro e sozinho (com
seus filhotes, no caso da guepardo-fêmea), mas há milhares de olhos sobre ele,
também os meus.
comento com meu filho. ele diz: pode ser que nós também
estejamos sendo observados neste momento. não gosto da ideia, mas, pelo que
constato, ele não se preocupa muito.
antes de eu ir dormir, o guepardo-fêmea e seus filhotes
tinham sumido de frente da câmera. vi o elefante fazendo uma espécie de dança
meneando o corpo, movimentando as pernas da frente e a tromba, um movimento de
navio, lento, no mar imenso. o panda cotinuava largadão e o leão desaparecido
entre as pedras.
no meio da noite acordei pensando neles, nesses bichos
todos. bebi água, demorei a dormir.
o panda gigante está agora no meio da noite dele, com insônia talvez,
sei lá, comendo bambu, como quem pensa na vida.
***
sobre o que escrevi ontem, não acho que a vida tenha que ser
assim, neste distanciamento social. acho que os dias ficam muito parecidos, sim,
sem os encontros e o acaso que os encontros permitem, a novidade ao olhar o
mundo que é sempre outro também em casa, mas que é mais outro quando vemos
outros horizontes. o principal tema que quero pensar não é o ascetismo, mas a possibilidade de vivermos de forma mais
simples no consumo e na produção. que não sejam o trabalho (no sentido do
emprego, que nos gera renda) e o consumo o que nos realizem, mas o espaço dos
encontros e da criação.
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