antes,
parecia que os dias ensolarados pioravam a sensação de estarmos fechados em
casa. mas agora que já passaram tres dias cinzas, frios e chuvosos, acho que os
dias de sol pelo menos davam ânimo para tocar o cotidiano. além disso, com a chuva, é como se as folhas
das árvores crescessem mais rápido e,se seguirem neste ritmo, daqui a pouco não
veremos nem os vizinhos na hora dos aplausos. as figuras já difusas se
reduzirão a uma cumplicidade sonora. e só.
***
se isso
fosse uma guerra, haveria o dia em que a paz seria declarada e todos teríamos a
falsa ilusão de tudo voltar ao normal. ainda que nunca tenha havido nenhuma normalidade.
mesmo porque a imagem das pessoas saindo às ruas para comemorar o final de uma
guerra, desde que me chegam notícias de guerras de verdade, só me parece possível
em filmes. quando se declara o fim de uma guerra, está tudo tãp destruído e
ninguém nunca é vencedor.
e como isso
é um vírus, não uma guerra, não haverá um armistício, um cessar fogo decretado.
não se suspenderá a quarentena num momento específico, a partir do qual poderemos
sair pras ruas, nos ver e abraçar e compartilhar espaços, como se nada tivesse
acontecido. não. se a quarentena caiu de um momento a outro sobre nossas vidas,
sair da quarentena será lento. e ainda vai demorar. o pior ainda não chegou.
nem nesta cidade nem no mundo.
não quero
pensar no pior.
***
enquanto
isso damos voltas na jaula, inventamos paisagens e procuramos
adivinhar o que acontece nos lugares do mundo onde nenhum de nós está.
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